Planalto busca desviar foco, mas avalia que Bolsonaro mostrou força ao mobilizar aliados

Por Sérgio Ferreira 27/02/2024 - 07:28 hs

Por: Redação / Renato Machado, Julia Chaib e Marianna Holanda | Folhapress

Integrantes do governo Lula (PT) reconhecem nos bastidores que Jair Bolsonaro (PL) surpreendeu ao mobilizar aliados, como governadores e prefeitos, durante o ato que reuniu milhares de pessoas na avenida Paulista, em São Paulo.
 

Alguns auxiliares de Lula afirmam terem ficado surpresos com a presença de políticos que vinham apresentando sinais de moderação ou que vinham mantendo um canal de diálogo com o Palácio do Planalto.
 

Diante desse diagnóstico, a equipe de Lula adotou a estratégia de ignorar ou pelo menos minimizar os impactos da manifestação.
 

Nesta segunda-feira (26), um dia após o ato na capital paulista, integrantes do governo Lula desviaram do tema. A intenção é não dar mais visibilidade para a manifestação bolsonarista.
 

O presidente Lula evitou responder uma pergunta de jornalista sobre o assunto. Já o ministro Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação Social da Presidência) buscou minimizar a situação, afirmando que esteve mais preocupado com a rodada do futebol no domingo do que com o protesto.
 

"Só sei que os vermelhos ganharam tudo ontem. O Liverpool ganhou, o Inter ganhou, o Flamengo ganhou. Só deu vermelho ontem", afirmou.
 

Rui Costa (Casa Civil) apenas disse que a mobilização esteve aquém do que era esperado pelos organizadores e que grande parte das pessoas que estavam lá seguiu o chamado de pastores religiosos. Ele também ironizou que a maior surpresa foi um suposto reconhecimento de cometimento de crime por Bolsonaro durante seu discurso.
 

Interlocutores de Lula dizem que era natural uma reação de Jair Bolsonaro diante das investigações da Polícia Federal. Eles também destacam que o ex-presidente ainda detém um considerável capital político. Mas ponderam que desde o início estava claro que essa demonstração de força não teria o poder de mudar o curso das apurações em curso contra o ex-presidente.
 

Por outro lado, pessoas próximas a Lula manifestaram contrariedade com alguns integrantes da classe política que marcaram presença na manifestação. A principal preocupação foi com lideranças políticas que eram consideradas, pelo Planalto, mais pragmáticas e distantes do bolsonarismo mais ideológico. Um conselheiro do presidente afirmou que alguns "optaram por estar em um lado" e esse lado é o "dessa organização criminosa".
 

A fala reflete um sentimento de que havia esperança de que o ato fosse mais esvaziado de nomes políticos de peso. Uma das surpresas negativas para a equipe de Lula foi a presença do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), que nos últimos meses manteve diálogo com o governo federal para avançar projetos de interesse de seu estado.
 

Também chamou a atenção a postura de Tarcísio de Freitas (Republicanos). Por um lado, a sua participação era esperada, considerando que ele foi eleito com o apoio de Bolsonaro e a manifestação ocorreu em São Paulo. Por outro, auxiliares do petista não contavam com uma posição de destaque para Tarcísio e muito menos um discurso lembrando o "legado" de Bolsonaro e com críticas indiretas a Lula.
 

"Um presidente que sempre respeitou Israel e a luta de seu povo", afirmou o governador, numa fala que foi lida como uma estocada em Lula.

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